Eins, Zwei, Drei

Três frequentadores do aparelho de som dignos de nota nos últimos tempos:

Walverdes – “Breakdance” (Monstro Discos – 2010) – Cinco discos e quase 18 anos depois, os Walverdes chegam com “Breakdance”, mais um capítulo do som de garagem gaúcho. Berço de bandas com identidades tão ímpares entre si quanto distintas de tudo que se faz do eixo RJ-SP pra cima, o Rio Grande do Sul viu o nascimento dos Walverdes ainda na esteira da fita K-7. A banda já mostrava suas credenciais nesse comecinho: guitarras estridentes, harmônicos que remetiam à sonoridade do Mudhoney (ou “esquindolas”, como foram apelidadas pela própria banda), letras obedecendo mais a métrica que ao sentido. Sempre independente, os walverdes não mexeram muito no time nesse tempo todo. Desaceleraram a vêia punk e acrescentaram requintes de stoner rock a seus riffs; no resto, nada mudou: a barulheira continua toda lá.

Vários – “Indie On The Run” (site Rock’n’Beats) – A segunda vinda de Paul McCartney ao Brasil mais se assemelhou à segunda vinda de Cristo. Ops! Não saiam por aí queimando e quebrando discos do ex-beatle ainda. Um nova geração de ouvintes e músicos andou fuçando na discoteca dos pais e achou não só os discos do quarteto, mas os solos de sir Paul, mais expecificamente “McCartney” (70), “RAM” (assinado como Paul e Linda – afinal John e Yoko assinavam os seus a dois, não é mesmo?, de 72) e “McCartney II” (80). Como muitas dessas pessoas montaram bandas, eis aqui um tributo à essa influência, descontraído e lo-fi, como reza a cartilha do indie. Houve quem metesse a mão bem fundo no balaio, caso dos paulistanos do Single Parents com “Every Night”, lá do disco de estréia de sir Paul; há quem empreste personalidade ao que já transborda personalidade, como os curitibanos do Sabonetes com “All My Loving” num curiosa versão pseudo à capela, e os sergipanos do Nantes com a simpática “Here There & Everywhere”, onde só faltou o caldinho de sururu da praia de Atalaia em Aracaju pro clima de maresia ficar completo. Mas rolam os frankensteins também, caso dos gaúchos Volveless e sua versão literal e traduzida de “Blackbird” (ou “Passáro Preto” mesmo), Wannabe Jalva e a já insípida “Say Say Say” (parceria Macca/Jacko) e nem mesmo o obscuro e experimental “Chaos and Creation in the Backyard” ficou de fora, graça à “Fine Line” nas mãos do Hirofante Púrpura. Pra baixar “fofrí

Wry – “National Indie Hits” – Os sorocabanos do Wry fizeram tudo que uma banda independente dos anos 90 podia e sonhava em fazer. Excursionaram e fizeram nome em uma época onde não havia nem celular nem internet, e equipamento, viagens e telefonemas à distância não eram acessíveis assim pra grande maioria dos mortais. Sempre obstinados, os wrys foram parar em Londres, onde começaram do zero e acabaram indo onde nenhuma outra banda de sua geração foi. Por razões outras a banda voltou ao Brasil e encerrou suas atividades no ano que passou. Pros fãs não ficarem tristes, demos, discos, singles e até projetos que não tinham visto a luz do dia foram disponibilizados pra download no blog da banda. E é lá que está “National Indie Hits”, treze versões de bandas contemporâneas ao Wry, catadas carinhosamente em fitas K-7, uma justa homenagem aos que fizeram (e alguns ainda fazem) o circuito alternativo brasileiro. Tem pra todo gosto: dos bate estacas de Biggs, Walverdes e MQN ao puro blasé de brincando de deus, Vellocet e Low Dream, sem deixar de bater continência pra Killing Chainsaw e Pin Ups.

PS1 – Quem leu com um pouco mais de atenção percebeu que o termo “indie” foi usado em alguns casos por falta de termo relativo em melhor grau de definição,

PS2 – “Versão” é uma coisa, “cover” é outra.

Sobre odeiopassas

Leia aqui tudo que os jornais não querem me pagar para escrever pois dizem que ninguém ia querer ler.
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3 respostas para Eins, Zwei, Drei

  1. Christy Ribeiro disse:

    Gostei das resenhas. Não quero nem ver a cor desse tributo, mas um dia, quem sabe, eu possa dar uma chance aos Walverdes e ao Wry, depois de ler essas suas palavras.

    • odeiopassas disse:

      Chris,
      Levando em consideração que o Macca não têve uma canção tipo “Imagine” na carreira solo dele (apesar dos tops), acho esse resgate dos trabalhos solo dele muito digna, tem coisas bacanas lá. Ok, muita coisa aí pode ser arroz-de-festa, mas outras valem uma escutada com carinho.

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